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Armazém de textos em que alguns até poderão ter piada

sexta-feira, maio 20, 2005

Momentos de poesia ruralista, pelo Dr. Dextrose Virudal

1º momento

Chapinhasse eu
Na tua frescura
Enterrasse eu, as minhas mãos,
No teu solo sagrado
Dormisse eu
Uma noite ao luar enfarinhado,
Lado a lado,
Com o verde do teu ridente regaço
Fosse eu
Capaz de cantar a tua formosura...
E aqui estaria um homem feliz,
Meu amigo,
Meu bom amigo,
Canteiro de alfaces!



2º momento

Caminhava à sombra das macieiras
Aspirei o teu perfume
Procurei-te...
E quando te encontrei
Oh deuses do campo...
Oh musas do tempo...
Ajudem-me a cantar...
Mergulhei no teu ser,
Fremente acariciei-te,
Contigo brinquei,
Contigo aprendi a amar!

As minhas mãos tremiam,
Espasmos de prazer percorreram-me...
E sempre,
Sempre esse teu aroma inebriante,
Embriaguei-me de ti,
De felicidade mordisquei-te!

Sabes a vida...
És vida,
Minha vida,
Meu tesouro.
Contigo me cobri,
Em ti me descobri,
Meu... monte de estrume...


3º momento

Vossa pele, ai a vossa pele
De veludo...
Quando passo a minha mão por ela,
Quando sinto a suavidade,
Todo o meu ser estremece...

E o vosso corpo
De curvas sinuosas...
É o centro
E o epicentro
Do meu ser...

Gosto de vos despir...
Gosto de vos sentir nas minhas mãos.
Tomara apertar-vos,
Como quem aperta o desejo...
E sentir-vos,
Na minha boca...
Sentir essa sensação
De voluptuosa sofreguidão...

E também gosto...
À mesa,
De vos comer...
Com entrecosto e chouriço,
Ó favas...


4º momento

Teus olhos
São candeeiros
Que alumiam a minha vida!

São tochas
Que conduzem a minha procissão!

São fogueiras
Que aquecem o meu inverno!

Teus olhos
Da cor de mel,
Do mel das estevas da minha charneca!

São zangões
Que fecundam a minha rainha...

São bagaço
Que engorda os meus bacorinhos...

São águas da levada
Que regam as minhas couves galegas...

Quando olho para os teus olhos
Grande é o meu deleite,
A minha alma se espraia,
O meu ser se alivia
E num só momento,
Uma vez só, durante o dia,
Não me importo de deixar de os ver...
Quando te estou a mungir,
Minha vaquinha...


5º momento

As couves de Bruxelas da minha horta
São como lírios do mar

As couves de Bruxelas da minha horta
São como neve do deserto da Sara

As couves de Bruxelas da minha horta
São como os cóbois do Afeganistão

As couves de Bruxelas da minha horta
São como a inteligência no Ministério da Educação

As couves de Bruxelas da minha horta
São como a verdade no caso Moderna

As couves de Bruxelas da minha horta
São como uma rua sem buracos em Lisboa

As couves de Bruxelas da minha horta
São como a alegria no “Amor de Perdição”

Eu não tenho couves de Bruxelas na minha horta
Só portuguesas...


6º momento

Ó dúvida implacável!
Ó escolha impossível!
Quando o meu coração balança
Entre uma e outra...

Gesta de procura sem alcançar!
Estória de fado insensato!
Indecisão que me mata
E me deixa sem porfir...

Ó deuses do Olimpo!
Ó Nereides do meu mar!
Ajudai-me!

Que eu não posso,
Que minha alma sangra...
Escolho, batata branca ou batata roxa?